terça-feira, 3 de junho de 2014

Duro

A coragem é dura.
A liberdade é corajosa.
Ora, a liberdade é dura.

É preciso ter coragem para se viver em liberdade, em liberdade constante de viajar nos pensamentos, proferir palavras ou criar e manter omissões. A dureza de ser verdadeiro, ser único, ser louco tanto na profundidade como na frivolidade, é uma liberdade a que poucos tem coragem de aceder.

Houve quem visse uma quase perigosidade na maneira como vivo.
Num desprendimento, num sem amarrras.
Vivo de forma livre. Livre de pensar dentro de um mundo que nem quero saber se é só meu, livre para me cansar numa atençao redobrada a tudo e numa curiosidade atroz que não me deixa.
Invento.      Desinvento.
Questiono e até não quero ouvir respostas.

Mas esta forma perigosa nao me prende. E não me mata.
Não me prende porque não deixo. E naturalmente porque nao quero deixar.
Não me faz tremer ou vacilar. Cansa-me. Mas anima-me.
Porque é uma forma livre de ser. Deixar-me só ser. Assim.

É duro.

Já o sabia quando não sucumbi a facilidade de não ser livre. De me deixar ir apagando a existencia no meu mundo.
E reconheci essa dureza vezes infinitas. Na padaria e no barco. Na cozinha e na cama. No inverno e no verão.

Trago em mim essa estupidez perigosa de uma liberdade assumida.
Enrouqueço na liberdade de nao me prender à amarra da não verdade.
Gasto as palavras a dize-lo na defesa de não sucumbir. 
Ser verdadeiro é duro porque traz uma liberdade estupida.
Trago tambem na algibeira a liberdade que mostro. Quem por aqui se cruza sabe que sou livre. Quem aqui se cruzou não foi enganado. Houve quem ficasse à porta por saber ao que ia. 

Instável no pensamento, estável na convicção e no compromisso com as convicções.
Ser verdadeiro e ter a coragem de assumir perante os outros que se é livre, abrir-se a liberdade interna e mostrar-se o deesprendimento comprometido, é duro.
Nem é fácil de compreender, quanto mais de aceitar.
É duro.

No entanto sou um  livre que me enrrosco e entrelaço nos outros.Nos mundos alheios. Ceratmente levado por essa curiosidade que brota da atenção. Abro o meu tesouro de insanidades e sou permeável. Mostro. Ofereço-me em torno de mentes e ideias. Das minhas viagens e ensejos. Delicio-me na perdida certeza de me perder na minha liberdade e no entrelaçar. Entreguei a liberdade de ser livre, mas magicamente mantive-me tão livre como antes de cada entrega. Entregar é um acto igualmente livre. Corajoso.

Ser livre é duro e só.

Esse alguém que me viu a perigosidade quase libertina e psicotica, é livre.
Goza de uma liberdade hermética, fechada.
É - parece-me - igualmente duro e só.
Num mundo seu é tão livre como eu. É tão diferentemente livre, corajoso.
Não se entrelaça: tem a coragem de se assumir livre e conscientemente fechado.
Afasta qualquer entrelaço e desprende rapidamente e com uma perícia estrondosa todas as amarras que lhe lançam e todos os laços que o envolvem.
Essa liberdade é igualmente corajosa. E dura.

Porque ser-se só, é tão somente a forma de ser-se livre. De se ter a liberdade só de e para si.
Porque não ha livre-a-dois.

É só livre de forma louca quando nao permite nem entradas, mas verdadeiramente livre quando escolhe não ter saídas. Nada dali saí.
(para um curioso é um engodo que se desfere repetidamente como flecha em toda a carne)

Tem aquela liberdade corajosa e perigosa de ser-se e manter-se.
Intocável.
Visível, mas inabalável.
Visitável mas intransponível.
Como um castelo eregido num monte.
Não se entrega, mas todos o tomam por conquistado.

O seu segredo não é mostrado - porque assim o assume livremente - , com sorte são segredos algo descobertoa ou desconfiados. Sem ceretzas.

Mantem-se sozinho. Livre. Perigoso. Corajoso e suportando a dureza.
Zigzagueia com velocidade que o corpo lhe dá empurrado pela mente.
Pedala as ideias fazendo-as subir e mastiga-as na bolina com que percorre o mundo dos outros para que não o vejam.
É duro.
E sempre só. Na sua engendra veloz que não permite companhia. 

É totalmente livre.

...e quão mais perigoso que eu?


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