segunda-feira, 3 de julho de 2006

Adjuvantes

Não poderei passar à trama sem com verdade e devida admiração, passar um breve traço desta pena informática, pelos adjuvantes da tão lendária arte de bem-fazer bolinhos.

Note-se que nunca este périplo alfabético será suficiente para agradecer, engrandecer e indicar todos os adjuvantes, nem terá largura de capaz de abarcar os feitos épicos de todos estes anos. Pois para isso teria de certo de igualar-me em páginas e inspiração ao senhor do colarinho em acordeão e o olho arriscado. E as musas do Tejo não me dão confiança...

Mas mesmo assim e para o esclarecimento de quem me escuta vale a pena espreitar essas mentes ardilosas, até porque ajudar-vos-á a pintar esses cenários maquiavélicos de que vos falei desde o primeiro momento. Além de que confio a minha sorte a ter de me cruzar com esta comitiva deverás perigosa e pela minha pele não poderia deixar em vão ou em forma de esquecimento a referência. E mesmo que me refugiasse na justificação de que não abordei a existência deles porque é óbvio entender que tinha de ter ajuda e que até era claro o reconhecimento da sua morada, não escaparia à decapitação! Seria uma atitude classificável como a de um fritador de rissóis!

E nem no momento de estalar o óleo com as bolas fermentadas de Berlim me quis comparar a esse clã! Quero deixar claro que não é por desdém que o digo, mas por entender que os fritadores de rissóis são...como diria...são uma classe à parte! Porque fritar rissóis deita cheiro, faz barulho e providencia ao seu executante um ar gorduroso e desgastado, ou seja transparece ao espectador (e faz-se força para parecer) um trabalho árduo!

Como disse antes ser pasteleiro não é fácil, fazer bolinhos pressupõe uma dedicação feroz; porém é uma profissão mal entendida e mal amada.

Não posso por isso deixar de louvar a todos os pequenos psicopatas que se dedicaram a seguir-me. E mais, essas incautas criaturas são r-e-a-l-m-e-n-t-e inteligentes, dedicadas e proveitosos talentos escondidos. Apesar de desprovidas de senso de esperteza, senão seriam outra coisa.

Poderiam fazer qualquer coisa. E fá-lo-iam certamente muito bem.
Até mesmo...fritar rissóis.

Mas a verdade é que o senhor da ordem, o que distribui as tarefas pelos mortais (sim, esse, o verdadeiro special one) reservou-me esta caterva fiel, expectante, grandiosa e modesta.

Estes seriam os Meus Pasteleiros.

Os gourmets animavam o espírito de equipa, mas não suportavam A equipa. Queriam indivíduos para mais facilmente vota-los – se assim fosse conveniente – à ruína. Como os predadores preferem atacar os que estão isolados.

Unidos crescemos numa quadrilha odiada por todos. Coesos e impenetráveis, com um linguajar próprio, cheio de piadas aos cinocéfalios que nos rodeavam. Não perdoávamos um movimento em vão. Atiçávamos com profundas afectações de perfeccionistas a incredulidade dos restantes: “Mas que dizem eles? Porque não se queixam? Porque querem ser perfeitos?”.
Ninguém armava chantilly como nós! Ninguém o mantinha apetecível sob calor e pressão! Quem poderia fazer aquelas imensuráveis torres de profiteroles? Só mesmo Estes Pasteleiros! Pela genialidade, pelo dom, pela loucura enraivecida que gera pormenor em circunstâncias deverás adversas. A verdade é que de vez em quando passávamos as marcas e chegávamos a ser insuportáveis, mas isso agora não interessa nada.

Vencemos todas as batalhas nestas fornadas. Fui um privilegiado.

E enquanto ganhávamos distancia, sabíamos saber algo que mais ninguém sabia.

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