segunda-feira, 9 de maio de 2016

letargia, nostalgia, selvajaria, estuo.

"sinto a nostalgia da imoralidade.”
machado de assis

é o legado da nossa cobardia, esta nostalgia impiedosa, castigadora. que nos perturba em cada canto deixando um rasto lascivo de sorrisos ariscos.

aquela imoralidade sã, palpitante, que se sentava à mesa, num sol inquietante.
deixávamo-nos embrulhar na letargia da satisfação que este estado de força nos dava. sempre no pré-coito. sempre a salivar. num limbo grotesco de sedução.
 (..)
esquecer é uma necessidade que se impõe, mas não sei se é deste estuo, desta febre sob a pele, esquecer é impossível, é algo que não deixo progredir.

dizes tantas coisas a calar-te.
 
......ainda assim, não me satisfaz nem sossega. a ansia é crescente e incessante.

salta a certeza que seria um absoluto vórtice e ao mesmo tempo a paz, e sossego que imagino e.. que tivemos num mundo único de um sabor e odor inigualável.
e toda  esta certeza transforma-se numa grande desconfiança, na incerteza.

não entendo.
a nenhum de nós.
e contrariamente, tao bem contextualizo os passos dessa dança que dançamos horas infinitas.
 (...)
impusemos um padrão. cada um para si. uma regência, e... : "Quase gosto da vida que tenho. Não foi fácil habituar-me a mim. Tive de me desfazer das coisas mais preciosas, entre elas de ti..." pedro paixao

mas sabemos a verdade: ríamos como loucos, e agora ninguém nos faz rir assim. nem permitimos que vá tao fundo, ou não nos libertámos tanto porque não queremos. chorávamos sem lágrimas a alma um do outro, a conturbada existência que tivemos, o sermos uns totais deslocados, uns marginais. sentimos o toque mais profundo e sensual de todos, sem nunca nos termos tocado. olhamos tão fundo da alma que doía, ao observado e ao observador. respirámos no mesmo compasso.
repudiamo-nos tanto porque o querer era tanto que mesmo tendo sido canibais não gastaríamos este apetite. 

num equilíbrio insuperável, saltávamos entre a delicia da imoralidade, da perversidade, do humor caustico. o sol a queimar, a dor masoquista, o jogo; e a inocência e  fascínio puro, o profícuo querer, a ternura, esse amor displicente, libertador, maior.

o monstro volta a cada circulo, a cada ciclo....[ http://capitania-mimosa.blogspot.pt/2010/09/amputacao.html ]

volta por um sinal. um sopro. um som. uma  palavra.
estamos impregnados um no outro.
tapados e escondidos debaixo do tapete da nossa sala de vivencia social.

o ultimo dia da minha vida podia ser assim, em ti. nada mais restaria para viver.



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