quinta-feira, 20 de agosto de 2015

origami de boro.

Um quadrado  de papel simples e insipido, dobrado em vincos de precisão. Rematado com dobragens simples e especiais e preparadas para um resultado. Resultado para a vista de todos.

Nada do que parece é, é só a construção para uma imagem perfeita e harmoniosa. Suave imagem em que se interligam, analisam e questionam os vincos, a luz e sombras, o equilíbrio.

O artesão crítico não goza a imagem da sua criação. Nem o seu volume ou forma. Reconhece um caminho e uma obra, mas não se satisfaz. Desdobra até à exaustão aquela pequena matéria prima para lhe dar novamente a mesma forma. Examina em continuo e escrutina novas técnicas.

O papel gasto e puído torna-se uma frágil rede de fibras, um Boro japonês. Seguro pelo tempo e com o tempo contra ele. Redobra-se e faz do seu desgaste uma nova e diferente matéria. reconhece-se a marca do vinco e do tempo, mas apaga-se no novo desenho da sua textura reinventada. Reparado, reinventado, transformado. Sempre imperfeito. Sempre em busca.

 A beleza e a importância da imperfeição, a unicidade de cada dobragem na crua arte de encontrar puras formas, enleva-se até à destruição porque não atinge a perfeição.

 Uma esquizofrenia, um autismo.

 

Quando o artesão já não pode dobrar, por estar no abismo de reconhecer pequenas imperfeições inultrapassáveis, morre. Morre porque se alimentava da sua arte. e deixa de a fazer. como quem deixa de respirar. sucumbe à sua estagnação.

 

Vem num passo lento quem ensine sob a luz da paciência, que a perfeição é um segundo que existe no acto e não na obra.

Vem numa ensinança terna quem explique que a matéria prima não é só o papel intocado. Vem quem com firmeza guie para que o artesão olhe para o boro como uma arte em si, a base de uma nova construção evolutiva.

Vem quem com um sorriso mostre o abismo da forma mais negra e marque a regra dura da verdade para se descobrir o limite.

Vem quem fala de apreender e evoluir de forma paulatina para imprimir marca na profunda origem dos actos.

Vem quem apoie e serene. Vem quem exalte e torture.

Vem quem salva, quem sente e faz sentir. quem é solidário e superior. quem entende e quem questiona. quem salva.

Vem quem mais do que ser artesão é artista e casa da própria arte.

 

 

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