sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Cutelos e guarnições





Jamais traí. E aquilo a que julgueis traições, foram mudanças de estratégia, rumos novos, caminhos descobertos para atalhar e chegar de melhor forma ao principio traçado.


Ninguém poderá vislumbrar as minhas razões, porque não privam com o tear que ticateia no meu cérebro.



Um principio a ter em conta é a lealdade. Mesmo que seja a um souvenir das minhas experiências,e esses postais ilustrados que guardo na gaveta poeirenta da memória são feitos de pessoas. Energumenas ou não. Pessoas, entes.



Os loucos que noutrora foram adjuvantes e parceiros de quimeras condenadas foram a minha quadrilha.O clã como o disse. Coeso. Prometi-me a mim mesmo não surrupiar mais enternecimento advindo de qualquer parentesco de amizade, e para isso não alimentaria os animais enjaulados. Porque enfraquece. E não fosse, qual milagre da natureza cósmica, nascer-me de novo um coração.



Encontrei um bando. Promíscuo e sórdido. Acidamente sarcástico. Cortante e desprezível. Servia-me perfeitamente.



Destes posso contar-vos que riam ruidosamente quando trocidavam o mais pequeno, pacato e insignificante insecto rastejante ou voador. Não o matavam, nem desprezavam. Gozavam de requintes de malvadez na tortura que lhes provocavam gozos de luxuria.

Não seria o meu solo aquele. Já o havia experimentado, aquando de outra velhice.

Mas serviam perfeitamente para colmatar a falta de oralidade que me impunha no trato com a massa que zumbia à minha volta.



Gozo de boa forma física, pelas carcaças que reduzo em golpes secos de cutelo na banca de inox. Acompanhar estes alucinados nas suas suturnas viagens ao mundo negro do alcool e do crime não representava para mim qualquer esforço.



Não seriam um clã e nem muito poderiam a aspirar ser o meu.

Dei-me conta que se referiam a mim como um ser esverdeado a quem gostariam de integrar. Bradei que não os queria e por isso não me podiam querer.



O menosprezo, desdém excita exponencialmente o desprezado. Cria-lhe a sede e revolve-lhe o sangue. Manipula os sonos e apetites. Era o que tinha acontecido. Viciaram-se. Seguiam-me mergulhados numa expecturação que saia da sua excitação.


Tinha um bando. Tinha-o na total ascenção da palavra. Houverá um momento em que, como sempre, um dos cretinos se insurgira num motim isolado. Parti-lhe uma rótula e deixei-o coxo para todo o sempre. Havia crepitado dentro das suas cabeças o gozo que tirariam deste acto bárbaro, sadismo como meio de elevação. Ao próprio ensinei-lhe num falso salivar os prazeres do masoquismo. Idolatraram-me.

(...)

Houvera um tarado convencido de mais arte de manipulação ou mais engenho e persistência na grelha do que qualquer outro que me propos sociedade. Estudei o caso. Quando da primeira queimadura - e era um leve esquiço daquelas que já me marcavam as mãos - guinchou como um ganso entalado numa armadilha de ursos.

Mesmo com este fracasso continuava a rogar a sociedade: "Seríamos um mundo" dizia ao mesmo tempo que me mostrava a pequena ampola que nem marcas deixaria. Para ganhar importância juntou outras cicatrizes, dizendo-se capaz de suportar todas as dores.

Ora todos os desta profissão sabemos que o pior nas cozinhas apertadas e carrgadas de testosterona prestes a explodir sob o calor das grelhas, é a gritaria.

Soube nesse dia que não faria sociedades. E que queimaria a face do primeiro que ousasse levantar a voz no meu reino.

(...)


Servia-me este bando. Para experimentar todo o saber e suposições que cresciam dentro de mim. Essa eterna dúvida dos limites do pensar. Sob o meu próprio esgar maquinava lobotomias quimicas, quando não as mecânicasO bando encontrado e oferecido pelos deuses para as minhas experiências sucumbiriam as experiências que me conduziriam ao âmago e origem das gritarias...servia-me e era todo meu.




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