baloiçavam no ar, agitando o éter. Zumbiam, entrecortando as respirações absortas.
Nada mais se mantinha naquele infinito, debaixo da tela pintada de azul e fingida de abóboda celestial.
Eternos aqueles movimentos rápidos, delineavam os nossos olhares, conduziam as nossas mentes. Nada mais parecia existir com tamanha presença.
Aquela realidade única e vivida por tantos. uma maneira de administrar espanto era deter as mãos magicamente soltas entre os saltos.
Algo único. Inquestionável.
zummm-zummmm...E baloiçavam no ar os trapezistas daquele circo.
Esse circo que nos preenchia e onde vivíamos essa vida que achamos plena, mas sabemos reduzida. Sabemos que lá fora há mais, que existe mundo atras dessas portas de oleado pesado em que nos achamos exclusivos...
Aquele baloiçar seguro em cordas finas, similares a pressupostos plenos, mundanos, reais, absolutos...
Aquele baloiçar pendia levemente no ar, mas de forma tão sustentada que parecia inabalável. Tão seguro que inquestionável.
Os trapezistas guiavam-nos nesta vida.
Os trapezistas revezam-se em malabarismos, nuances da sua actuação e existência.
E condicionavam a nossa a existência nesses minutos e horas em que apenas neles nos fitávamos; que sob eles vivíamos, religiosamente. sagrada e obedientemente.
Os trapezistas caíram. Soltaram-se da mão. Desagarraram-se.
Um caiu desamparadamente na rede, e vimo-lo como um pedaço de carne sem valor e beleza. nos segundos da queda perdeu a magia e o absolutismo.
O outro, do alto, pendia fragilmente do trapézio rasgado, periclitante.
Agora olhávamos com desdém não a abóboda, mas a arena onde tudo se passa; essa arena de pó, quase lodo, onde todos os passos se revelam. Desmascarávamos essa quietude zumbida, para ver a massa humana arrastar-se nessa humilhante perda da grandiosidade, da verdade fingida e sustentada por tempos incontáveis.
Afinal . . não eram mais que nós.
nessa terra que cobre o chão, nesse pó fino que sob todos emerge, passaram ao que sempre foram: partes.
Saímos dessa realidade a que chamamos vida, esssa existencia comandada, quase fingida, absorta, quase vazia.
E voltamos ao mundano mas magnifico ser da descoberta. do caminhar à deriva, com a nossa mente e sem artifícios que nos toldam.
as verdades são como trapezistas.
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