Dei-me conta de um tumulto tumoral dentro de mim.
Não há operações, extracções ou outras acções de bisturi, manejado por réplicas do Dexter ou do Hannibal, que extrairiam aquele volume.
Numa
forçada esperança recorro aos meus braços e golfejos de energia para
conseguir expulsar esta vontade. Esta ânsia assassina. Suicida. Este
terrorismo interior a que me submeto cada vez que pestanejo.
Mas como num ciclo verdadeiramente vicioso, entre a luta que alcança a sua meta, a revolução vê-se sempre reforçada.
O ninho de abelhas passa a ter vespas, e o mel se transtorna num ferrão que não se distancia.
Iminente
morte, deito-me com a deliciosa ternura da angustia. As almofadas desta
cama são a luta e a superação, os lençóis o desejo e a tentação.
Suo. Molho-me e acordo morto de sede…
Doente? Pois sim!! Febril e preso.
Esta existência está sequestrada em cada canto da minha existência, e aquela existência é em si o sequestrador.
Não saí! Não quero que me deixe. Sucumbo.
Esta existência que habita em mim cresce e regenera-se alimentando-se de si, e extinguindo a sua vida.
De uma clara e plácida aparência, tinha um suave pulsar. Uma existência que se dominava entre os dedos.
Cresceu.
Por
vezes assoma-se gigante dentro de mim, em cada janela e em cada espaço.
A todas as horas. Invade artérias e veias, mistura os sangues e a
saliva. É o negro ser. Monstruoso. Violento. Fascinante.
Quando
não aguento mais, quando arreio à sua soberba, quando no negro e na
sombra já cresce o lodo, quando o quero revestir de repulsa e
afastar-me, curar-me, torna-se intumescido, brilhante, saudável e corado...pronto a dar-se.
Na
delicia e ao sol quente de palavras genuínas esta arvore cresceu,
floresceu e teve primaveras subtis. Passaram sob os seus ramos verões
com cheiro a laranja e a sal.
Entre
as folhas, como pequenas páginas de livros, poemas cantados no sopro da
brisa, aparecia um céu azul, incandescente.
Tomava-me de assalto e
cegava-me.
Sorri muito nesta pura brincadeira.
Sorri na lembrança destes
brilhos que entravam em mim. Esqueci-me de todas as sensações.
Embalei-me e adormeci sob as suas folhas.
Um ramo ou outro partiram, mas a arvore não parou de envolver.
A arvore não deixou de crescer e de enraizar-se.
Mas
na sombra que sempre existe para o sol ser brilhante, estava a humidade
do que não queria dizer.
Esta humidade alimentava a arvore, as suas
raízes, rega a existência para que viva mais, mais forte.
Queria
que este espectro fosse repulsivo. Que me afastasse. Mas a sua
viscosidade, tornou-se mais agarrada as paredes das vísceras que a
repelem.
Tomou parte de mim. Tornou-se em mim.
Presente, é indelével no tempo e na memória.
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