sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Pés de barro para grandes empreitadas

Hoje estou num completo bom humor.

A fraqueza é uma qualidade que me inspira curiosidade.

Espreito os comportamentos dos fracos com ávido interesse.
Sempre aprendo.

É maldade pura, eu sei, mas por vezes chego mesmo a criar cenários, para que nos biquinhos dos seus minusculos pés de barro, gritem a coragem e audácia dos seus movimentos.
Depois aguardo quieto que tudo apure, coloco no tempero a minha ansiedade.
(e assisto a isto: o perfume da angústia, da espera, do falhanço anunciado saí por todos os poros destas personagenzinhas. Eu acho graça.)

Normalmente quem envereda por grandes empreitadas, de vista farta, teima em colocar-se em bicos dos pés, falar muito e com pouca consistência (mas com muita convicção) e badalar as diversas plateias os seus feitos ou o que está para ser feito.

Ora o galo que alto canta, enrouquece rápido. E depois - como criou o hábito de berrar - apita aquele ridiculo som de galinha depenada.

Acho graça.
Normalmente o que mais admirámos veio de fracas figuras, timidas, encolhidas e que coram nos elogios. Nas grandes empreitadas vemos barrigudos de bigodes proeminentes, mas que calçam ridiculos pés com pequenos sapatos de verniz. Espero com paciência que o verniz estale, descasque, esfole... e depois com uma falsa simpatia ofereço os melhores elogios à sua fraca condição como forma de humilhação que tem de ser aceite para não demonstrar que reconhece a sua minuspresença.

Acho muita graça.

Racham-se os pés de barro, mas não sustentavam mais que fumo.

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