Queiram voces saber que larguei as lides.
Deixei o touro sozinho a bradar numa arena (agora) mais vazia que bailarico que terra perdida.
Ah! E cobarde sou eu, apesar da barba que me mostra a idade e sofrimentos, e não aspirasse tanto a produzir o cheiro morno do Pão e já o teria feito num passado mais longínquo.
Adiante.
Perdi-me de amores pela minha profissão e como já vem sendo hábito e histórico, sempre que alguém se perde de amores, acaba em separações tortuosas.
Deitei a bata ao chão.
Não queria aquela subserviência cega, aquele cinismo decrépito, aquela paz podre.
Até porque me achava maior.
Agora de longe vejo que era mais um, com engenho é verdade, mas mais um.
Apontaram-me brilhantismo. Mas castigaram-me como se fosse o mais torpe asno em acção. E como? reduzindo-me...
Mas "tão ladrão é o que rouba, como o que fica a porta" e eu que era o Senhor Roubado, fiquei a porta ao mesmo tempo. Portanto a mim me culpo.
Mas não é para a introspecção que aqui estou. Mas sim para deitar o fel. Para discorrer na arte da vingança. Para interpelar avisos.
Larguei o alguidar, os bolos, o forno, as formas, o açucar e farinha. Larguei cruamente o fermento. Sem olhar para trás, com aviso da despedida, iludi os que me seguiam e larguei-os à própria sorte.
Arranquei o meu coração e queimei-o para não mais o recuperar.
Rasguei os sonhos.
Amarguei-me e vendi a alma.
Os gourmets ficaram estupefactos. Os fritadores de rissois atónitos.
"Quem faria os bolinhos?!" ouvia-se em surdina nos corredores da corte.
Aguavam agora que perdiam.
Sacudi das calças a farinha.
De nobre voltei a ouvi-los.
Sorri e na malevolência que me torpia o pensar dei-lhes a cabeça que queriam.
Planeado ou não, fui cruel. Cruel com os máximos abutres que me perseguiam a carcaça e com o meu seguidor mais voraz.
A esse e por respeito à arte que professara, ensinei-lhe o caminho ao armazém secreto e deixei-lhe o medidor de açucar, qual Graal tão questionado.
Mas as forças do desejo não o acompanharam.
Perdido entre formas e arames, não elevou os merengues e queimou os coulis de fruta.
Entre drogas sucumbe, não aguenta as queimaduras do forno.
Sobrevive na tormenta de não ter paladar, segredo que a nínguem confessa.A quadrilha fora destroçada. Tornaram-se abjectos, obsoletos e ridículos.
Agora à distância de um quarteirão vejo, rebolosos em lamas, que se afundam cheios de artificios.
Comem-se em abraços, esfaqueiam-se em mentiras, e na surdina os Mestres Gourmets calam a miséria à espera (espero eu) de enfraquecer aqueles que, em canibalismo, depicarão.
Cairam as portadas. A tinta somesse da fachada. O letreiro, outrora viçoso e luzidio, corrompe o orgulho.
Entre eles se cobrem, entre eles se ma(ltra)tam.
Passei a assador.
Animais inteiros se debatem sob as chamas que tutelo.
Entre eles os meus comparssas.
Prestam-me vénias e escarnios invejosos.
Não tem arte, não tem deleite nem glória, mas tem poder.
E...o clã quer voltar a ser meu. Seria a estocada de morte.
A arena ressoa ecos de vazio.
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