Durante todo o tempo tinha feito bolos. Maiores. Menores. Com e sem creme...assim como as bolas de berlim.
É verdade que por vezes havia biscoitos esturricados porque tinha perdido a mão, e o forno estava demasiadamente quente. Mas também tinha tirado fornadas de deliciar a plateia.
Controlavam-se com as palmas, pois os gourmets não se extasiam com bolos, bolinhos e bolachas. Faziam por aparentar serem verdadeiros degustadores, mas a verdade é que os apanhei umas quantas vezes (se calhar até demasiadas) a comer aquelas impressionantes piramides feitas de restos atrasdos de outros bolos.
Mas não me proponho aqui a apreciar o percurso destes...gourmets! Por isso, adiante!
No fundo, graças a antiguidade que trago nesta profissão e nesta vida, com a sabedoria que me deram as queimaduras já indisfarçáveis que se me notam nas mãos, reconhecia naqueles esgares verdadeiros "OHHH"s de admiração pela arte, paciência e técnica que eu apresentava ao transformar aqueles míseros recursos em algo comestível e de sabor verdadeiramente reconfortante.
Percebi que os meus bolos eram como ar que respiravam. Não me deixavam investir num forno novo, mas pediam mais e mais fornadas!
A vida de um pasteleiro é muito dificil, não julguem!
Um dia tive a ousadia de dizer: Quero fazer pão! Pão verdadeiramente saboroso! Perfumá-lo com ervas finas! Fazer pão de passas! Fazer algo que, para além da admirável quantidade e do enebriante cheiro, seja a sublime compilação do sabor e da simplicidade! O Pão!
Ora aqui é que eu ultrapassei a marca!! Não estaria demasiadamente avisado para saber que quem faz o pão são os deuses?! Que ousadia a minha! Quanto mais não fosse e com sorte, poderia ter a benesse de amassar arduamente aquela montanha de farinha-sal-água empurrada violentamente por um fermento que não deixa o tempo descansar.
Tu és um pasteleiro! Não (e nunca - vim a saber mais tarde ) serás um Nobre Padeiro!
Amy Winehouse - Back To Black
Há 6 anos
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